Sua História
Zito Righi

E o mestre da banda da pequena e bela cidade interiorana, em seu vistoso uniforme, era o alvo das atenções, na praça principal, lugar da retreta, ponto das reuniões. Era ele, o maestro Henrique Righi, uma das figuras tradicionais da querida Marquês de Valença. Se orgulhava em ser músico professor e sentia-se um pouco triste por notar que seu filho, Luciano Righi, agente de Estação, funcionário da Central, nenhum pendor trazia para a música. Eram vidas amigas, correndo em trilhos diferentes.
E os tempos passaram. E Henrique Righi, ganhou mais um título: AVÔ. Seu neto Isidoro Righi (Zito Righi), fluminense, nasceu em Mendes, em 16/10/1924, mas foi criado em Paty do Alferes, aos 6 aninhos, já se fazia entender com um cavaquinho de brinquedo. E o avô sorria. Sabia que era o seu sangue a dar continuidade à tradição da família Righi. A mania do guri pela música era coisa de berço. Zico, seu apelido de infância era um predestinado. A vizinhança, vez por outra, o acolhia na solidão, tocando e compondo. E todos diziam: Ziquinho será um grande artista. Mudou-se para o Rio de Janeiro, aos 17 anos. Aprendeu a tocar órgão, piano, trombone, bateria e baixo. Isidoro Righi, O "Zico de Paty", cresceu e viveu como quase todos.
Zito Righi Morou na cidade do Rio de Janeiro até 1931 e depois mudou-se para Paty do Alferes. Começou a tocar saxofone e em 1936 toca no Conjunto dos Boêmios. Em 1943 retornou ao Rio de Janeiro.
Em 1946, aliou ao estudo o trabalho, e se tornou tripulante da Panair do Brasil. E em cada canto, em cada pouso descobriam um momento de alegria pois Zico Righi e os da tripulação, improvisavam-se em conjunto musical e viviam toda uma noite de festa. E Zico era o show, alternando na bateria, órgão, saxofone, contrabaixo e piano, instrumentos com os quais já estava familiarizado. Mas o "snob" em todas as andanças, era quando chegavam em Lisboa e rumavam todos, para o Cassino Estoril, o ponto alto das noite de Portugal e eram recebido como convidados muito especiais pela direção do Hotel. Eles sabiam que aquela gente , trazia a música brasileira, o ritmo gostoso do samba. E os Portugueses ficavam tristes, quando a turma se despedia. Era a saudade que ficava...
A esta altura (1950) já não era mais tripulante.
E as afirmações, batiam à sua porta. Em 1960, tocava no conjunto de Bené Nunes e foi designado para o baile oficial da posse do Presidente Jânio Quadros no Palácio da Alvorada em Brasília. Foi uma consagração interior de definição profissional. Prestígio... Também passou um mês em uma tournée com Bené no Festival de Cinema, em Punta D'Leste.
Com o Conjunto de Roberto Inglês passou uma temporada de 7 meses no Chile. Em 1962 formou um conjunto com o pianista Ribamar. Depois associou-se a Humberto Garim, que sugeriu mudar o nome de Zico para Zito.
Como todo músico que se preza, Zito Righi percorreu as melhores casas da noite carioca, as mais luxuosas, as mais comentadas e frequentadas. Em sua folha de serviços prestados, catalogava mais de trinta gravações, algumas das quais, acusando vendagens excelentes, mas que não constavam seu nome pois vinda atuando com pseudônimos estrangeiros. Por sua habilidade com o saxofone, ficou famoso ao criar Zito Righi e Seu Conjunto e posteriormente adotou o pseudônimo de Bob Fleming.
Zito Righi, dominava nos mínimos detalhes, os segredos da orquestração, arranjos, técnica e estilo musical, e em sua bem sucedida carreira, apenas duas páginas do seu livro sonhado ainda não realidade. A primeira, construir o seu conjunto e nele aplicar todos os conhecimentos adquiridos. E fez o sonho, realidade.
A biografia de Zito Righi é dificilmente detectável, exceto pelo fato de ele compartilhar o pseudônimo de Bob Fleming com Moacyr Silva. Na verdade, apenas os dois primeiros álbuns de Bob Fleming foram gravados por Moacyr Silva, enquanto todos os álbuns subsequentes contaram com Zito Righi.
Zito Righi tocou extensivamente em salas de concerto e casas noturnas, e lançou quatro álbuns com seu nome: Sax de Ouro em 1961, The Song is You em 1962, Ribamar & Zito Righi em 1963 e Alucinolândia em 1968.
Este último álbum, reuniu, ,pelo talento, disciplina e amor à música, gente nova, com ideal zelo à profissão. E constituiu oficialmente seu conjunto com os seguintes nomes: Pistons: Ubirajara e Barcelos; Trombone: Othon; Sax barítono: Renato; Órgão: Alberto; Contrabaixo: Paulinho; Bateria: Fernando; Ritmista: Nilo; Guitarra: Jorginho; Crooners: Verinha, Sônia Santos e Carlinhos; e Saxofone: Zito Righi.
Zito Righi, músico professor, organista, baterista, contrabaixista, pianista, saxofonista, compositor, arranjador e maestro.
Alucinolândia, de Zito Righi e seu conjunto, como diria o Maya Cipriano, será tão importante amanhã, como foi ontem, como hoje é.
E o saudoso mestre, que regia a tradicional banda de Valença, onde quer que esteja na eternidade, estará sorrindo uma alegria pura, pois seu neto é um pouco de si. É um Righi. Foi músico de corpo e alma.